quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Pré-Entrevista Programa Caleidoscópio Tv Horizonte 09/08/2010 Tema: Competitividde

"Ser competitivo é uma característica do ser humano, mas às vezes a sede de querer ser o melhor é maior do que o normal. Por que algumas pessoas desejam tanto bater recordes? Por que existem pessoas que possuem tanta vontade de se afirmar e ser melhor em tudo? Os pais podem ser responsáveis por isso? Cobrar sempre um bom desempenho dos filhos, pode transformá-los em pessoas competitivas? E a escola? Ela estimula esse comportamento ao promover concursos de melhor aluno? Comparar notas e desempenho, isso pode fazer mal? Pode ser preocupante? É preciso ser competitivo para se dar bem nos estudos e ser um bom profissional? E no caso daqueles que são competitivos no trabalho? Será que eles sempre foram assim? Por que o ser humano gosta de bater recordes? Existem recordes muitos estranhos, até mesmo inúteis no guinnes book. O que faz uma pessoa ter orgulho de comer o maior número de cachorros quentes em menos tempo, por exemplo? Isso também não é vontade de aparecer?"

- Ser competitivo é uma característica comum a todo ser humano? Acredito que o ser humano tem uma necessidade de carência e, sendo assim, ele faz de tudo para chamar a atenção e ser reconhecido.
- Por que somos competitivos? Nós vivemos num mundo capitalista onde exige cada vez mais a necessidade de ser o melhor e se destacar entre os demais. A necessidade de sobrevivência torna o ser humano competitivo nos dias de hoje: preciso ser o herói, preciso “ter”, ser exemplo de sucesso perante os outros.
- Quando a competitividade te ajuda? E quando ela atrapalha? A competitividade é saudável quando exige o desenvolvimento constante do indivíduo, superando seus limites, valorizando seus pontos fortes. Porém, ela se torna negativa quando o ser humano rompe os princípios éticos e morais da sociedade em vista do seu próprio benefício.

- A escola estimula a competitividade ao promover concursos de melhor aluno, por exemplo? O papel da escola é inserir o indivíduo na sociedade. Quando criança, a escola é o meio para o convívio com as outras crianças - as ensinam a compartilhar brinquedos e a respeitar o outro. Quando adolescente, a escola orienta para a convivência em grupo. O adolescente sente uma necessidade e se identificar com um grupo. Daí uma boa oportunidade de aprender a trabalhar sobre temas tais como: princípios, auto-confiança, relacionamentos. E quando jovens, a escola deve educar para a maturidade exigida na sociedade: a responsabilidade, a independência, as dificuldades. Porém, quando a escola premia o melhor aluno, entrega medalhas de melhores notas, está reproduzindo o meio do individualismo, o ser egoísta, o ser melhor que os outros. A escola deveria orientar na direção das superações individuais, ou seja, cada um deveria buscar o aperfeiçoamento contínuo de suas habilidades, de seus conhecimentos e do seu “eu” interior. Quando isso ocorre, acredito que a vantagem competitiva do ser humano se destaca por si próprio.

- É preciso ser competitivo para se dar bem nos estudos? Não. É preciso que o indivíduo entenda a necessidade de estudar, de aprender, a importância de absorver conhecimentos, de ampliar a perspectiva, de refletir e de questionar. O aprendizado flui naturalmente.

- Cobrar sempre um bom desempenho dos alunos, pode transformá-los em pessoas competitivas? Depende. Algumas pessoas podem se sentirem frustradas por não atender as expectativas daquilo que foi imposta a ela. Isso resulta numa baixa auto-estima, subestimando a capacidade de superação. Para outras, a pressão pode até ajudar na busca de ser o melhor, mas não acredito que esta seja a forma ideal de alcançar desempenho. As palavras de incentivo e encorajamento têm que ser sempre positivas. É muito importante a presença dos pais na educação. Eles devem estimular o desenvolvimento da criança com frases de encorajamento e nunca por cobrança. Muitas crianças se esforçam para atender aos pais somente para serem reconhecidas e amadas por eles. Como se errar pudesse perder o amor dos pais. Frase com “você quase conseguiu, se esforçasse mais....” é realmente desestimulante.

- A competitividade pode ser maior ou menor em várias situações (esporte, escola, em casa, por exemplo) ou é sempre a mesma? Quais momentos ou situações fazem com que o jovem seja mais competitivo? A competitividade poderá ser maior ou menor dependendo do contexto e do tipo de relacionamento que o indivíduo tem perante os pais, perante a sociedade, perante os colegas. O esporte é como o mundo corporativo, o jovem aprende que ele tem o seu papel individual, mas ao mesmo tempo ele tem um papel de fazer parte de uma equipe. Individual significa que ele tem que dar o melhor de si. De equipe, que ele precisa cooperar para somar as habilidades de todos e conseguir o melhor resultado do time.

- Ser competitivo é a mesma coisa de querer sempre levar vantagem? Não. Ser competitivo é saber usufruir tudo aquilo que você tem de melhor e procurar corrigir seus pontos negativos. Uma relação em que um leva vantagem não é uma relação saudável, pois tem sempre alguém na desvantagem. A competitividade saudável é aquela que busca o seu melhor sem banir o outro.

- Em qual fase da vida a competitividade é mais forte? Acredito que cada fase da vida tem seu estilo de competitividade. Existe a fase de ter o melhor brinquedo, existe a fase do passar no vestibular, existe a fase do primeiro emprego. Sempre existirá uma cobrança competitiva independente do momento que estamos passando.

- É possível perceber quando a sede de querer ser o melhor passa a ser um problema? Como? Sim. Quando existem muitas frustrações, quando nunca se está satisfeito, quando as atitudes se tornam egoístas, quando a preocupação é mais no “eu”. É por isso que acredito na “Alfabetização Emocional”, ou seja, capacitar os indivíduos a se conhecerem melhor, aprender a lidar com sentimentos, a superar dificuldades, saber apreciar uma vitória, saber conviver com os outros. É a busca da autoconfiança, da auto-estima para viver num mundo melhor.