UNDERHILL, PACO. Vamos às compras! A ciência do consumo; tradução de Ivo Korytowski. Rio de Janeiro: Campus, 1999. 231p
NASCE UMA CIÊNCIA
Na busca de disponibilizar produtos mais próximos aos clientes, o desenvolvimento de uma ciência de compras tem foco num estudo que viabiliza esta receptividade com base em pesquisa, comparação e análise de mercado. Para tanto, se atém a detalhes que variam do ponto mais externo ao mais intrínseco das organizações, representando o início do processo desta ciência. Com uma equipe bem desenvolvida, o autor se vale de anotações múltiplas e como forma de tabulação, utiliza de formulários como chave de todo o empreendimento, e um resultado positivo no que tange à armazenagem e recuperação de informações.
O desenvolvimento desta ciência dá-se pela observação constante, independente daquilo a que se pode averiguar, pois “o óbvio nem sempre é aparente”. Neste contexto, toda informação visual é válida e de grande importância, pois representa a percepção e manuseio de clientes e a proposição da gestão da organização. A ciência toma forma no desenrolar desta pesquisa, pois toda equipe não sabe o que vai encontrar. Como exemplo, um produto que tenha como alvo o público adulto, pode ser influenciado pelos filhos destes ou mesmo por pessoas idosas e os dois são públicos distintos. Desta forma as vendas são concretizadas mediante o comportamento do cliente e este precisa ser direcionado. Apesar de parecer óbvio, somente com toda a pesquisa elaborada e tabulada é que se observa esta obviedade que até então passa despercebida aos olhos comuns, representando, pois, significativos insights para aqueles que se encontram fora do campo pesquisado.
Antes desta ciência, alguns comerciantes procuravam verificar o desempenho esperado de seu negócio de maneiras distintas. Uma, pelo resultado das caixas registradoras, mas o autor afirma que é uma visão deturpada da verdade, pois nem sempre o número de clientes que adentram a empresa significa o mesmo número negócios fechados, o que pode impactar em projeções futuras. Outra forma utilizada é a pesquisa de opinião, que se bem estrutura, facilita a obtenção de muita informação de marketing, possibilitando estas projeções. Contudo, a concorrência cresce exponencialmente o que leva as empresas a obter uma vantagem, ou seja, uma ciência, que promova o levantamento de tantos quantos necessários os dados, para uma efetiva campanha de marketing que envolva promoção e publicidade. Da mesma forma, uma campanha que procure o estabelecimento e o fortalecimento de uma marca, pois de acordo com o autor “cada decisão é nova e nada pode ser aceito como verdade absoluta”. Uma marca forte nem sempre significa resultado em vendas expressivas, o que leva às empresas a investir também no local das vendas, pois isto tem a capacidade de atrair e reter cliente que valorizará, e muito, seu conforto e o prazer da experiência. A capacidade da ciência das compras se consolida no momento em que cria melhor ambiente para os clientes, além de fornecer uma maneira de defesa do consumidor.
O QUE OS VAREJISTAS NÃO SABEM
Como maneira de consolidar a importância do estudo é prudente a análise do ponto de vista do varejista também, pois é ele quem deverá absorver a essência desta ciência e posteriormente aplicá-la visando atender aos clientes da melhor maneira possível.
Cabe ao varejista, assim como a todos os envolvidos na dinâmica da venda, acompanhar os clientes e destes, verificar quantos e quais realmente compram em seus estabelecimentos. Isto faz parte da cultura estabelecida, contudo, sob uma análise criteriosa é permitido mudar algumas coisas no layout das lojas, displays, merchandising, equipe de vendas, propaganda, promoções e a localização de mercadorias, visando o incremento no número de clientes que entram e que realmente compram. Um crescimento significativo poderá ser tão somente, incrementado ao nível da loja sem representar uma estratégia dispendiosa que comprometeria todo o poder de um departamento de marketing, mas resultaria num desempenho de vital importância nas vendas.
Fatores diversos podem contribuir para a extensão do processo de compra. Além do tempo em que o cliente passa comprando, outra maneira de observação seria verificar quantos dos clientes têm algum contato direto com um funcionário. A relação direta tem poder de aumentar as vendas, pois isola o vício da impessoalidade. Outro fator a ser analisado é o tempo em que o cliente fica esperando que tem grande poder de dissuadir à compra além de representar um impressão altamente negativa. Por fim, fortalecendo o contato direto, conhecer o cliente e entender sua real necessidade é um diferencial que tem grande poder de incremento nas vendas. Isto leva à certeza de que na ciência das compras o varejista deve se ajustar às características fisiológicas de clientes, pois aonde eles vão e o que vêem determina a própria experiência da compra.
A ZONA DO CREPÚSCULO
A adequação do layout de lojas é tarefa que leva os profissionais de marketing a uma avaliação cuidadosa, pois a porta de entrada é o cartão de visita da loja. O seu limiar não é local certo para realizar algo impactante, pois os clientes tendem a transpô-la o mais rápido possível. Dessa forma uma saudação cordial somente, já tem o poder da sedução; no entanto, se deseja um impacto maior, a quebra de regras como uma boa oferta, é uma boa forma de recepção e se bem estruturada tem o poder de deter fregueses que entram apressadamente, e torná-los satisfeitos logo à entrada.
VOCÊ PRECISA DE MÃOS
A observação das características fisiológicas das pessoas leva à certeza da necessidade de adequação dos espaços comerciais. Muitos, transformados em verdadeiros labirintos onde os clientes se perdem e nada compram, têm em sua zona de transição verdadeiros depósitos de obstáculos o que leva o cliente a querer transpô-la sem demora. Um exemplo são as cestas disponibilizadas para que o cliente carregue suas compras. Em muitos locais, estas cestas são colocadas logo à entrada dificultando sua passagem. Passado o “sufoco” da zona de transição, o cliente mais calmo se deixa levar pela sua tendência e um produto leva a outro e outro. Tendo somente duas mãos, não tem como carregar suas compras, porém as cestas que seriam um alívio estão disponibilizadas lá na entrada, por onde o cliente passou tão apressadamente que não as enxergou. Em varejo, uma maneira fácil de ganhar dinheiro é vender mais para os clientes existentes, e vender mais se alia ao complemento e ao impulso de clientes e podem significar a diferença entre o lucro e o prejuízo. Este complemento, no entanto, que pode significar saber o quanto o freguês comprará, provém da necessidade de tornar a experiência de compra o mais confortável, fácil e prática possível, e o varejista deve saber proporcionar isto a seus clientes. “Se os fregueses não puderem estender a mão e sentir certos produtos, simplesmente não os comprarão”.
COMO LER UM CARTAZ
Em muitos ambientes comerciais, a leitura de cartazes, banners ou faixas é uma tarefa árdua para os clientes. Ao serem elaborados por profissionais de marketing são avaliadas a sua capacidade de impactar, se estão claros e perceptíveis, porém naquele ambiente onde estão sendo criados. Mas ao serem colocados nos pontos “escolhidos” ou “determinados”, sua mensagem se torna, muitas vezes, obscura e sem sentido, por não apresentarem a real capacidade de comunicação, pelo que foram elaborados. Os profissionais que os criam têm que ter o contato com o ambiente onde serão expostos e expondo-os analisar se realmente estão atingindo o desejado, a comunicação eficiente que resulte em aumento de vendas. Assim, não cabe colocar essas mensagens em lugares quaisquer. Existem pontos vitais que podem e devem ser explorados com uso de mensagens rápidas e claras, como a proximidade dos caixas, onde os clientes inevitavelmente permanecem por alguns minutos até que chegue sua vez de atendimento. Nesses momentos é que podem ocorrer mais decisões de compra, e o varejista não poderá desperdiçar uma chance de falar aos seus clientes algo que quer que eles saibam. Para tanto é necessário reter sua atenção e se conseguindo apresentar uma mensagem clara, objetiva e direcionada. “É inútil informar algo aos fregueses quando é tarde demais para agirem em função dessa informação”.
OS FREGUESES SE MOVIMENTAM COMO PESSOAS
Quando o fluxo de uma loja é bom, sem que haja pontos de obstáculos para clientes nem pontos cegos os clientes encontraram caminhos nela. Isto representa uma loja elaborada inteligentemente, adequada aos padrões de locomoção, aos hábitos de movimentação das pessoas que tem o poder da compra. Mais uma vez é a preocupação com o conforto e bem estar de clientes que impacta nos resultados desejados. Tendenciosamente, as pessoas têm seu lado direito como a mão de direção, portanto cabe aos lojistas disponibilizarem de forma inteligente suas mercadorias de maneira que o cliente ao querer pegar um produto acabe pegando mais, além daquele primeiro. Não é tarefa fácil, pois além da preocupação com o espaço que já é reduzido, os profissionais deveriam disponibilizar as mercadorias em ângulo de 45° que representa colocá-las à frente e à direita das pessoas que caminham por entre os corredores da loja. Aquilo que nos é apresentado à frente e à direita tem o alto poder de atrair e incentivar as vendas. È o que leva os clientes a percorrerem toda a loja, da porta ao fundo e em sentido inverso, apresentando-lhes mensagens claras, mercadorias bem dispostas, embalagens bem estruturadas, como se ali fossem duas lojas distintas.
DINÂMICA
A preocupação com o conforto aos clientes tem que se estender a seus acompanhantes, pois estes muitas vezes representam seu consultor, seu aconselhador. Se lhes é oferecido o conforto de no mínimo um assento para que aguardem isto poderá auxiliar no incremento da venda. Ele agirá de forma cooperativa sem sabotar o prazo que o comprador necessita para a escolha e definição dos produtos desejados. Muita vez isto significa dizer que a loja preocupa com cliente e acompanhante, principalmente.
HOMENS COMPRANDO
Segundo Paco Underhill, o homens são geneticamente programados para se caçadores. Dessa forma, é seu instinto sair pela floresta e caçar alguma coisa com razoável rapidez e voltar para casa. Da mesma forma compartam os homens quando saem para fazer compras. Eles geralmente não têm paciência, gostam de ir direto ao assunto, comprar e sair da loja o mais rápido possível.
Para que as lojas de varejo consigam entreter os homens, elas deveriam oferecer “brinquedinhos” de homem. Enquanto sua esposa está fazendo compra, por exemplo, poderia existir uma ante-sala com televisão e jogo de futebol. O mercado ainda não desenvolveu este tipo de estratégia. Poderia deter e/ou entreter o homem.
Outro fato importante é que, hoje em dia, o homem também cuida do filho. Existem pais separados, pais que ficam em casa e pais gays. Eles precisam de assessórios específicos que só existem para as mulheres, como por exemplo, a sacola de fraldas.
GAYS / LÉSBICAS
Um breve comentário sobre os gays. Esses são estritamente detalhistas na estética e têm visão para o futuro. Gostam de estar por dentro da moda.
As lésbicas existem em dois papéis, sendo um deles o papel de machista e conservador, ou seja, parecidas com os homens.
AS MULHERES
Para Paco Underhill, as mulheres são coletoras que extraem um imenso prazer do ato de olhar. Adoram passear pelo shopping e olhar todas as vitrines. Para elas, a compra tem um significado de emoção. Uma cerveja, por exemplo, significa uma festa. Um batom novo significa beleza, sensualidade. Por outro lado, um supermercado já é visto como algo funcional. O mesmo para computadores e automóveis.
3ª IDADE
Este é um tópico bastante interessante. Em alguns anos, a população idosa será a maioria na escala demográfica. Dessa forma, a lojas têm que se preparar para atender essa população. São necessárias cadeiras especiais, rótulos com letras maiores, pessoas aptas para atendê-los sem pressa. Cores que clareiam a percepção do produto, preocupação com a disposição e suportes. Os idosos têm dificuldade em agachar e se locomovem mais devagar.
CRIANÇAS
Em relação às crianças, já existem lojas que são feitas para elas e para as mamães: portas automáticas, corredores largos, ausência de escadas e boa disposição dos produtos, boa visibilidade. Nada melhor para uma mãe é ter que passar com o carrinho do bebê pela loja ao comprar mercadoria ou, ainda, não ter que se preocupar com o filho, pois de qualquer lugar da loja dá para vigiá-lo.
As crianças também têm um poder enorme de persuasão sobre os pais. São elas que pedem e tocam em tudo o que deseja. As lojas poderiam aproveitar disso e oferecer um tratamento melhor para a família. Os cardápios dos restaurantes deveriam ser desenvolvidos também para as crianças. E, sobretudo, diversão e entretenimento nas lojas de adulto. Porém em lojas específicas, como eletrônicos, nunca deixar produtos ao alcance das suas mãos.
SENSORIAL
A questão sensorial é o ato de experimentar o produto. As vendas são maiores quando os produtos são utilizados no ponto de venda. Além disso, existem os aromas, como o do pãozinho no supermercado. É irresistível não comprá-lo!
Dessa forma, as lojas têm que se preocupar em passar a experiência da utilização do produto ao cliente. Este obterá a sensação oferecida pelo produto e efetivará a compra.
Segundo Paco Underhill, as pessoas gostam de tocar, se ver em espelhos, de descobrir um aroma, de conversar com outra pessoa, de serem reconhecidos por nomes e de pechinchas. E odeiam agachar-se, a falta de produtos, perguntas tolas, servidores rudes, etiquetas obscuras, filas e espelhos demais.
DESIGNE / DISPOSIÇÃO e PROMOÇÃO DE PRODUTOS NO PONTO DE VENDA / OPERAÇÕES
Sobre designe, significa instalação. As prateleiras, as estantes, o layout deverão estar apropriados à facilidade do cliente em pegar, andar pela loja, encontrar produtos e experimentá-los.
Sobre disposição e promoção de produtos no ponto de venda, estes deveriam ser realizados estrategicamente à altura dos olhos do consumidor e de acordo com a necessidade de experimentá-los. Muitos displays deveriam ser reformados. Letras maiores e formatos que facilitam a informação. E muitos pontos de promoções deveriam ser retirados, principalmente aqueles que te impeçam de circular.
Sobre operações, seria estudar melhor o ciclo do serviço, desde o ato da entrada da loja, até a efetivação da compra e saída. Muitas vezes um sistema de caixa lento joga fora todo o seu trabalho de marketing.
TEMPO
O tempo é muito precioso hoje em dia. As pessoas podem até esperar, mas devem ser informadas pelos motivos da espera. Com essa atitude, a loja diminuirá a ansiedade gerada pela espera por parte do cliente. Mas, lembre-se, sempre existirá uma tolerância no tempo da espera!
Muitas empresas colocam algum tipo de informação para despistar o tempo da espera. São produtos como revistas em supermercados e consultórios, televisões com programa de curta duração para pessoas em filas de banco, ou até um sistema de sinalizador numerado para que o consumidor tenha certeza que ele será chamado na hora correspondente à sua entrada na fila.
CAIXA/EMBALAGEM
Os caixas e o sistema de embrulho devem estar bem localizados, de fácil acesso e de forma ágil. Muitas pessoas desistem de comprar por causa da lentidão da fila ocasionada pelo mau desempenho do setor de pagamento e embalagem. É fazer com que seu consumidor realize a compra, mas impedi-lo de pagar.
MAGIA
Essa é a forma de fazer com que os produtos saltem aos olhos do consumidor. É pensar se o que foi planejado está realmente dando resultado. É saber aonde certo tipo de produto deve ser colocado. Saber como fazer para aumentar as vendas. É redecorar o ambiente para a sensação do uso. É utilizar o designe a seu favor e ter funcionários cordiais. Então fica a pergunta: Qual magia terá sua loja?
NOVA ERA
Segundo Paco Underhill, a internet não substitui a compra presencial. Diz isso pela falta de contato e experiência na hora da compra. Mas ele concorda que as compras online existem e estão crescendo. Porém, questiona as estratégias das lojas. Ele acredita que se essas fossem melhores, os consumidores prefeririam ir às compras.
Sobre as vantagens da internet, ele cita a ausência de fila, a pesquisa rápida e a economia de tempo. Porém, questiona os custos para financiar a era internet. Esta é, segundo ele, somente um fator agregador das lojas.
Além disso, comenta que não faz parte de rede sócia alguma. Ele prefere as experiências de troca real à virtual. É um apaixonado por interações pessoais. E um amante intercultural, chegando até a sentir um avião como se fosse sua casa.
CONSIDERAÇÕES SOBRE O LIVRO
O livro “Vamos às Compras” é um minucioso estudo de comportamento e de estímulos sobre compras. Nos ensina a como estudar o nosso próprio negócio sob o ponto de vista das compras. É observar as pessoas em todos os serviços da loja, para depois verificar as necessidades de mudanças.
Um excelente livro! Só é questionável a resistência do autor no mundo da internet. Hoje as pessoas precisam de tempo para se dedicar ao descanso e ao lazer. A internet trouxe a praticidade. Além disso, a interação na rede social é fantástica! É um universo cheio de oportunidades para as atividades de marketing, inclusive uma nova forma de relacionamento humano. São comportamentos online. É a tecnologia mudando a forma de viver das pessoas.
Por Marcelo Ribeiro da Silva Júnior e Vanessa Blanc Bazzoni